A Ilusão do Encontro Completo: Por que a Vida a Dois Nunca Sacia a Fome Original
I. A promessa não cumprida
Desde a infância, o mito do encontro perfeito é inscrito na carne da nossa cultura como tatuagem invisível: há alguém que virá nos completar.
Alguém que — finalmente — compreenderá nossas dores não ditas, corresponderá às expectativas jamais verbalizadas, saciará a fome ancestral de ser visto, tocado, salvo.
Esse mito, tão difundido quanto devastador, ecoa tanto em contos de fadas quanto nas produções contemporâneas do cinema, da música, das redes sociais.
Mas seu efeito é mais patológico do que poético: cria no sujeito a expectativa secreta de que o amor poderá restaurar uma unidade perdida — uma unidade que, na verdade, nunca existiu.
O descompasso entre a promessa e a realidade gera frustração crônica, ressentimento afetivo, sensação de traição silenciosa.
É preciso, portanto, confrontar a verdade brutal: o outro nunca será a nossa casa.
II. O mito da completude: raízes inconscientes
Freud, em O Mal-Estar na Civilização, já advertia que nossa busca por felicidade amorosa é sempre, em última análise, a tentativa de recuperar um paraíso perdido — o estado de fusão com a mãe primordial.
Mas esse paraíso é fantasmático: a vida psíquica desde cedo é atravessada pela perda, pela falta, pelo desamparo.
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