Como lidar com a dor de não ser amado do jeito que você precisa — e sair disso com menos fantasia e mais dignidade
I. O abismo entre o amor que se deseja e o amor que se recebe
Amar não é difícil. O difícil é aceitar que o amor que nos oferecem nem sempre tem a forma que desejamos — nem o cuidado, nem o tempo, nem a linguagem, nem a presença. É nesse abismo que nasce a frustração: entre o que sentimos que merecemos e o que, de fato, chega até nós.
Não se trata apenas de carência. Trata-se de uma quebra simbólica: o vínculo parece existir, mas não nos confirma. A sensação é de estar próximo e invisível ao mesmo tempo. De ser importante, mas não essencial. De ser amado, talvez — mas mal compreendido.
Essa frustração é vivida em silêncio por muita gente. Porque dizer “não me sinto amado como preciso” soa como acusação, drama ou excesso. Então o sujeito recua. Aguenta. Diminui o desejo. Ajusta as expectativas. Negocia o que não deveria ser negociado. E, aos poucos, internaliza a ideia de que está pedindo demais — quando, na verdade, está apenas nomeando uma ausência legítima.
Winnicott diria que o sujeito amadurece ao aprender a sobreviver às falhas do outro — mas também à própria ilusão de completude. Lacan, por sua vez, nos lembra que não existe “o outro que nos ame perfeitamente”, pois o desejo é sempre atravessado por falta, equívoco, desencontro. O que há, no máximo, é a possibilidade de construir algo suficientemente bom — quando se renuncia à fantasia de ser plenamente decifrado.
O problema é que muitos não vivem o amor como construção. Vivem como expectativa de reparação. A frustração, então, não dói só por falta do outro, mas porque ela reativa feridas muito anteriores: a de não ter sido visto, acolhido ou compreendido no início da vida. É assim que o parceiro de hoje vira, sem saber, o pai ou a mãe simbólica que continua falhando — e o sujeito, sem perceber, retorna ao lugar da criança que aguarda o cuidado certo, a palavra exata, o gesto que nunca vem.
II. A espera silenciosa que te adoece
Quem sente que não é amado como precisa geralmente permanece no vínculo tentando se tornar mais amável. Mais leve. Mais maduro. Mais tolerante. Tenta pedir menos. Ocupa menos espaço. E, com isso, desaparece.
Mas o amor que exige sumiço para continuar acontecendo não é amor — é sobrevivência afetiva. Um arranjo onde o sujeito aprende que, para não perder o outro, precisa perder a si mesmo. E essa é uma das formas mais sutis de autotraição: a de continuar sustentando um laço onde a presença não basta, mas a ausência não pode ser dita.
É nesse ponto que se abre a grande encruzilhada: continuar esperando que o outro um dia te ame direito — ou reconfigurar o que você faz com essa espera que nunca termina.
III. O que fazer quando o amor que te oferecem não é o amor que você precisa
Pare de negociar a legitimidade do seu desejo
Continue a ler com uma experiência gratuita de 7 dias
Subscreva a Manual da vida a dois para continuar a ler este post e obtenha 7 dias de acesso gratuito ao arquivo completo de posts.