I. A ilusão de que amar é salvar
Alguns vínculos se constroem sobre um contrato silencioso: um sofre calado, o outro tenta curar. O problema é que, nesse pacto, ninguém se transforma. Você vira enfermeiro da dor alheia — e, por tabela, da sua própria dor não reconhecida. Cuida para ser aceito, escuta para se manter próximo, insiste para não ser abandonado. Mas o outro não se move. Porque nunca pediu cura, nem está disposto a encarar o que sangra.
II. A repetição como defesa
Esse ciclo não nasce do acaso. É comum que quem assume esse papel tenha aprendido, cedo demais, que ser amado exigia ser útil — ou invisivelmente forte. Na linguagem da psicanálise, trata-se de uma repetição: ao tentar curar o outro, o sujeito revive o desejo infantil de curar os pais, de restaurar um ambiente que nunca foi seguro. A insistência em cuidar do que o outro não quer ver é, no fundo, uma tentativa de consertar uma história que não teve final feliz.
III. Quando o cuidado vira armadilha
Você oferece acolhimento, escuta, paciência — mas o que recebe de volta é distância, negação ou silêncio. E, ainda assim, permanece. Por quê? Porque já internalizou que sua dor é menos importante do que manter o vínculo. Porque confunde amor com sacrifício. Mas todo cuidado unilateral, quando sustentado por tempo demais, se transforma em forma de controle: “se eu curar você, talvez você me ame”. Só que não há reciprocidade na relação que se sustenta pelo desequilíbrio. Há desgaste, frustração e esvaziamento.
IV. Como romper com esse padrão
Sair desse ciclo não é se tornar indiferente. É se tornar inteiro. Abaixo, um roteiro prático e simbólico para começar:
Reconheça o tipo de vínculo que você está sustentando
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