Como saber se você está em uma relação ou em uma simulação: vínculos reais, vínculos performados e o desejo que (não) atravessa
Relações são, muitas vezes, ficções partilhadas. A dois, aprendemos a criar uma narrativa com começo, meio, promessas e protocolo. Dividimos calendários, códigos, aplicativos, senhas. Temos os mesmos amigos, jantares aos domingos, fotos arquivadas, gestos recorrentes. E, por vezes, confundimos isso com intimidade. Mas estar junto, na superfície do cotidiano, não é o mesmo que estar implicado.
Há relações que se mantêm sem desejo. Há convívios que persistem sem afeto. Há vínculos que duram por inércia, culpa, medo, ou hábito. Relações onde já não há travessia, apenas simulação. Onde tudo funciona — mas nada vibra.
A pergunta, então, não é “vocês ainda estão juntos?”, mas: há encontro? há presença? há desejo que circula ou apenas papéis que se mantêm?
Christian Dunker propõe que a estrutura da relação amorosa envolve três tempos éticos: o tempo da promessa (o que se pactua), o tempo do acontecimento (o que de fato se vive) e o tempo da permanência (o que se sustenta mesmo depois da frustração). Relações simbólicas reais atravessam esses três tempos — simulações estagnam no primeiro ou no segundo.
A simulação é um teatro do afeto. Nela, o sujeito não está implicado no que sente, mas apenas no que representa. Repete falas, cumpre expectativas, mantém o papel. A relação, então, não é lugar de desejo — é zona de funcionamento. Tudo “vai bem”, mas o bem-estar é narcísico: é o alívio de não estar só, de não ser rejeitado, de continuar dentro do esperado.
I. Sinais de que você está em uma simulação — e não em uma relação
1. Vocês se escutam — mas não se atravessam
A conversa existe, mas é funcional. Não há risco. Não há silêncio constrangedor. Tudo é dito de forma polida, equilibrada. Mas ninguém sai diferente. A palavra circula sem tocar a carne.
2. O afeto é medido por gestos repetitivos — e não por implicações espontâneas
Há “bom dia”, “boa noite”, datas comemoradas, beijos programados. Mas há pouca improvisação, pouco gesto fora de script. A relação virou agenda emocional. E o desejo, quando aparece, é tímido — ou clandestino.
3. O outro te ama mais pela função que você cumpre do que pela alteridade que você representa
Você é bom companheiro, bom parceiro, bom adulto. Mas sente que, se saísse desse lugar, se errasse fora do tom, se desorganizasse, o afeto poderia desaparecer. Você é amado pelo desempenho — não pelo desvio.
4. Você teme a conversa difícil porque ela pode “estragar tudo”
O simples fato de desejar um confronto, uma pausa, uma frustração já soa como ameaça. Porque a relação não tem espaço para deslocamento — só para manutenção. E toda mudança é vivida como risco de ruptura.
5. Você se sente mais só dentro da relação do que fora dela
A presença do outro não consola. Ao contrário: acentua sua sensação de ausência. Você olha para o lado e percebe que o corpo está ali — mas o encontro, não. E isso dói mais do que a solidão propriamente dita.
II. Estratégias para distinguir o que é relação do que é simulação
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